- Não gosto dos diálogos.
- Diálogos?...
- Nos livros, romances. Quando o autor interrompe a narração da história pra colocar falas das personagens.
- ...
- Principalmente quando é diálogo assim... direto que se chama, né? Com travessão e tudo. Acho tão pouco criativo, há tantas formas de inserir na narração as conversas sem essa quebra que o diálogo direto faz. Esse autor aqui faz isso o tempo todo, dá até vontade de pular os diálogos, pois às vezes nem acrescentam nada à história.
- Já ouviu falar dos de Platão?
- De quê?
- Dos Diálogos de Platão...
- Ah, sim, claro. Mas aí é diferente, porque o livro todo é em forma de diálogo, né? O diálogo não surge como uma quebra à voz do narrador.
- Já leu algum?
- De Platão? Já. Trechos, na verdade. Do Fédon, da Apologia de Sócrates. Acho que inteiro só o Eutífron, na faculdade. Sócrates defende a imortalidade da alma, né? Tinha um colega espírita que dizia que Sócrates - ou Platão - era o precursor do espiritismo. Foi ridicularizado pelo professor.
- O Banquete não? É o melhor.
- Não tenho muita paciência, não. Chega um ponto em que parece que nem eles sabem mais do que estão falando, quanto mais o leitor...
- ...
- Vou ler mais um pouco, se ficar muito chato desisto. Tô mais a fim de um fluxo de consciência.